Bianca Rossini, atriz brasileira e co-estrela de “Brainiacs”, novo filme de Dom Deluise, que faz sucesso em Los Angeles com o seu talk show semanal “The Bianca Rossini Show”, é entrevistada pelo humorista, roteirista e teatrólogo Paulo Duarte.
Em seu programa de TV, já dançou tango com Richard Dreyfuss, foi paciente do Dick Van Dyke, tentou vender sua linha de moda com peles de animais extintos para o Arsenio Hall e também foi seduzida por espiritos que a levaram para um mundo de danças afro-cubanas no The Sentinel, seriado da TV americana. Em Brainiacs, seu último filme, ela faz o papel de uma mulher de negócios russa, sócia do Dom Deluise.
Paulo Duarte – Bianca, como foi atuar com Dom Deluise?
BIANCA – Eu sempre gostei dos seus filmes e dos seus shows de culinária, e atuar com ele e vê-lo atuando foi bem divertido. O Dom é uma pessoa muito gentil, não importa com quem. Qualquer pessoa que lhe pedisse um autografo ou quisesse tirar uma foto com ele, Deluise não hesitava em atendê-los com a maior boa vontade.
Quantas atrizes fizeram teste para o papel?
– Perguntei ao diretor e ele disse que foram testadas cerca de 60 atrizes.
Como você estava se sentindo naquele dia?
– Bastante tranqüila. Estava aguardando o meu teste na área de recepção quando outras atrizes começaram a chegar. Elas eram de todos os tipos e tamanhos. E é claro, todas estávamos checando umas às outras.
Como foi o teste?
– Eu não tinha nenhuma idéia do que eles (diretor, produtor, etc) estavam querendo. Mas devido ao filme ser uma comédia, eu estava me sentindo bastante à vontade. Tanto que até me diverti com o diretor. Ele me perguntou:
“Bianca, de onde você é ?”
Atores, em geral, não gostam dessa pergunta, pois ninguém quer ser categorizado. Então eu respondi:
“Beverly Hills”, que é aonde eu moro.
Eles riram, mas o diretor insistiu:
“E antes?”
Eu respondi:
“West Hollywood.”
Sem desistir, ele continuou.
“E antes?” ”New York.”
“E antes?”
“Europa.”
Finalmente o diretor parou e eu perguntei porque ele ia desistir tão rápido? Ele respondeu que, na verdade, eles não sabiam direito o que estavam procurando. Eu o tranqüilizei, dizendo que iriamos descobrir isso juntos. Ele então continuou:
“Eu vejo que você faz vários sotaques. Que tal uma sueca? (o que não estava incluído na minha relação).
“Eu não faço sotaque de loira. Aliás, tem umas na recepção.” Eles riram.
“Ok, então faz com o sotaque Italiano.”
Eu fiz, eles riram mais.
“Ok, agora faz com sotaque Russo.”
Eles riram ainda mais.
Eu improvisei um pouco com o ator que estava lendo comigo, o diretor pediu que eu puxasse o meu cabelo para trás. No final, eu agradeci e, quando estava saindo, disse que eu me diverti e que ele era muito bom. O diretor agradeceu e eu falei que estava me referindo ao ator, e saí dali rindo bastante. Eu não soube nada por duas semanas e pensei: “eu devia ter dito que o diretor era bom, não o ator.” Mas então o telefone tocou e eu fui contratada.
Você gostaria de fazer mais comédias?
– Com certeza. Rir e fazer as pessoas rirem me dá um prazer enorme e é parte de como eu sou no meu dia a dia. Humor é algo delicado. Você só é engraçado na proporção de quem o está ouvindo também seja engraçado. Ou seja, se a pessoa não o entende, esqueça, porque não vai funcionar. Em geral, na vida real tem muita gente que se leva muito a serio. Para mim, as pessoas mais deliciosas são as que riem delas mesmas. Eu gosto de achar humor em tudo, onde inclui fazer graça de mim mesma.
Você já teve sucesso na sua carreira de atriz. O que a inspirou para ter o seu próprio programa de entrevistas?
– Desde pequena eu sempre adorei ouvir as pessoas contarem suas historias. No colégio, eu pertencia ao departamento de Jornalismo, onde eu tinha uma coluna de poesias e também fazia entrevistas. Em geral, as pessoas se sentem confortáveis comigo para revelarem coisas muito pessoais. A complexidade da vida faz da existência de cada pessoa um processo único. Todo mundo tem uma boa história para contar. Conhecidos meus notaram como as pessoas à minha volta se sentiam à vontade para falar, e me diziam sempre: “Bianca, você tem que ter o seu próprio programa.”
Quando você começou a produzir e apresentar o “The Bianca Rossini Show”?
– Um ano atrás. O meu show vai ao ar duas vezes por semana.
Você venceu como atriz numa terra estrangeira. Como vê essa parte da sua carreira no futuro?
– Eu adoro atuar, e obviamente seria fantástico fazer mais trabalhos que tenham realmente algo a dizer, que tenham substância. Como ator você está sempre a mercê da decisão de outros. Ter o meu próprio programa de entrevistas me deu a oportunidade única de realizar vários aspectos criativos: como apresentar, produzir, escrever, cenografar, dirigir, etc. Pela primeira vez eu sinto que estou utilizando basicamente todas as minhas habilidades, como também aprendendo muito com tudo isso, é claro. Como atriz, você está constantemente procurando trabalho. Com o meu próprio programa eu posso praticar todo o meu potencial e, quem sabe, até descobrir capacidades novas.
Que tipo de respostas do público você tem recebido?
– O resultado tem sido excelente. Eu recebo muitos e-mails tanto de homens quanto de mulheres. As pessoas estão assistindo e, segundo me falam, estão gostando muito do show.
Como você encontra os seus convidados?
– Através de pessoas que conheço, pessoas com quem já trabalhei, publicistas e as vezes os próprios convidados me procuram.
Qual a importância para alguém que está tentando conseguir visibilidade, aparecer num talk show como o seu?
– Muito grande. Quando você apresenta um espetáculo, ou faz outro tipo de trabalho que quer que o publico conheça, é fundamental que você seja entrevistado na TV. Outro exemplo é no próprio meio artístico. Alguns anos atrás, eu tentei me apresentar no circuito de programas de entrevistas, para promover a minha participação num show de TV em episódios, no qual eu fazia o papel principal. A primeira coisa que me perguntaram foi “Você já foi entrevistada no ar? Você tem uma cópia da entrevista?” Eles geralmente não lhe convidam, a não ser que tenham a certeza de que você pode interagir com o entrevistador. Não importa o quanto você seja bom como ator, se você não for interessante como convidado, as chances ficam limitadas ou nulas. Para muita gente, ser convidado para ir num programa de entrevistas independente não só lhe dá uma tremenda visibilidade, como serve também para exercitar-lhe a desenvoltura como convidado, e talvez essa seja a força necessária para você subir mais um degrau na sua carreira.
Que tipo de assuntos você costuma cobrir?
– Agora os shows estão bem ecléticos. Eu tenho, por exemplo, dado muito importância a temas ligados às artes, estilos de vida, moda, comidas, saúde, e outras novidades.
Você gosta de gravar o seu show em estúdio ou prefere locações?
– Eu gravo sempre em estúdio. Adoraria fazer também locações, mas isso requer um orçamento maior.
Como é produzir o seu próprio show?
– A última vez que contei eu fazia o trabalho de 10 pessoas (risos). Isso exige uma energia e disciplina constantes, mas é também muito prazeroso. A razão de ter aprendido muito em tão pouco tempo deve-se, em parte, por essa minha vontade e determinação incríveis de produzir sempre o melhor show possível.
Que planos você tem para o seu show daqui para frente?
– Eu gostaria de levá-lo para uma das televisões abertas ou canais a cabo que transmitem nacionalmente aqui nos Estados Unidos e também, num futuro próximo, distribuí-lo para o mercado brasileiro, latino e Europeu.
Para você, que tem um veia cômica muito forte, qual a importância do humor no processo da entrevista?
– Eu, como já disse, adoro humor e as pessoas bem humoradas, mas o convidado tem que estar disposto a entrar nesse clima. Se ele tem uma atitude descontraída e divertida, ou resolve contar alguma coisa engraçada, ai então eu viajo com isso, interajo com ele e a entrevista sempre fica melhor de ser assistida.
Para você, que fala 5 idiomas, nasceu no Brasil, já viajou muito e é uma pessoa talentosa desde a infância, ou seja, que tem muito a oferecer como apresentadora, qual seria, na sua opinião, o principal elemento para alguém ser um bom apresentador?
– Eu acho que o meu background e experiências em diferentes áreas me ajudam muito a me conectar com as pessoas, mas nada disso terá importância se o entrevistador não estiver interessado no convidado. No meu caso, eu gosto de ir sempre ao cerne da questão, procurando saber o que a pessoa sinceramente sente.
Qual e o seu passatempo favorito?
– Eu adoro ver gente. Infelizmente, Los Angeles não tem esses tipos de lugares, como em NY, Paris, ou Rio, cheio de pessoas e vida 24 horas por dia.
O que você faz para ficar em forma?
– Eu adoro dançar. Recentemente descobri Pilates, que é um método excelente de exercícios para o corpo. Mas eu também gosto muito de nadar e caminhar, principalmente na praia..
Em que aspecto Los Angeles é especial para você?
– Pelas mesmas razões que me fazem achar os Estados Unidos, como um todo, um pais incrível e extraordinário. As oportunidades que você tem aqui seriam quase impossíveis em outro lugar. O profissionalismo, o espaço, a maneira imediata como tudo é feito, a possibilidade de você concretizar o seu sonho, a abundância e muitas coisas mais. Em Los Angeles a vida é provavelmente bem mais confortável que em outras partes, não só porque o clima aqui é muito agradável, como você também pode fazer muito durante um curto espaço de tempo. Los Angeles é uma cidade para se trabalhar.
Você é uma das poucas pessoas que eu conheço nessa profissão que não fica dando desculpas, se explicando por isso ou aquilo não estar acontecendo. O que você tem a dizer sobre esse seu jeito de ser?
– Trabalhar em show business não é fácil, sempre foi uma carreira dificílima, mas ninguém está me forçando a ficar nessa industria. Eu me sinto privilegiada e muito feliz de ter uma vida artística.
Você já teve muitos convidados interessantes e famosos no seu show, como o Paul Mazursky, Dom Deluise e Dori Caymmi. Quem que você ainda não entrevistou mas que adoraria entrevistar?
– É claro que nesse mundo fantástico do show business tem muita gente famosa que eu gostaria de ter no meu programa. Mas o fato é que eu acredito muito que todos nós temos uma boa história para contar, seja famoso ou não.